O menino de
8 anos foi dormir e, ao acordar, sua referência de vida tinha partido para um
estranho lugar onde todos vão depois de cumprir
seu tempo aqui nesse mundo. O pai
do menino, do nada, fora chamado por alguém responsável por apontar o término
de nossas funções por aqui e o levou embora para sempre.
O menino não
entendeu direito, afinal, num dia seu pai o carregava nas costas, feliz, e no
outro simplesmente estava...como diziam mesmo? “com o papai do céu”. Nada
convence um menino de oito anos de que
seu pai não o carregará mais nas costas e que não mais brincarão juntos com o
caminhão azul ou trocarão passes com a bola nova ganha no natal.
Mas o menino
cresceu e hoje é pai também e tenta
ver como seria sua vida se tivesse um pai por um pouquinho mais de
tempo. Como seria se ele tivesse
acompanhado o crescimento do menino? O
ex-menino para, pensa e conclui que, na verdade, não há motivos para fazer esse
tipo de exercício de imaginação, porque o pai do menino viveu seu tempo como
tinha que ser e deixou a lembrança viva de tudo que puderam viver juntos, mesmo por um tempo aparentemente tão curtinho.
O tempo físico, na verdade, é definido arbitrariamente, marcado pelos ponteiros dos relógios que não param
nunca, mas o meu tempo é sempre o segundo seguinte. O tempo do meu pai foi o
tempo dele, viveu cada segundo e, desde então, sempre esteve presente em mim, numa convivência explêndida que independe de qualquer contato físico.
Hoje é o
menino do caminhão azul que dá o presente àquele que por aqui passou e deixou um
rastro mais azul que o azul do caminhão. E o rastro dele está aqui, na forma de um menino e uma
menina já crescidos e que ainda podem conviver com um pai físico e que faz de tudo para te-los sempre perto, seja carregando nas costas ou brincando com caminhões azuis.
Por fim, sei
que hoje e sempre, de onde estiver, ele continuará a encher o caminhão azul da
minha vida com o que todos chamam de felicidade.
Sem palavras pelos oito anos
de convivência, seu Jairo Sanguiné original, o único.